Peugeot tenta de novo com o 308 renovado
Carro melhor equipado tem missão de manter participação entre hatches médios
PEDRO KUTNEY, AB | Do Guarujá (SP)
A Peugeot aposta no visual levemente renovado, melhorias mecânicas e estéticas, pacote generoso de equipamentos e preços relativamente competitivos no relançamento do 308 no Brasil para apenas manter sua participação no segmento de hatches médios. A marca segue na estratégia de fazer no Mercosul o modelo ultrapassado em relação ao europeu. O 308 fabricado na Argentina para mercados sul-americanos recebeu aperfeiçoamentos, mas seguirá sendo montado sobre a mesma plataforma lançada na Europa em 2007 e introduzida aqui apenas em 2012, bem diferente da nova geração apresentada ano passado pela matriz na França – este carro deverá ser importado por preço elevado como opção superior da linha, com nome ainda a ser definido para marcar diferença.
Assim como fez em 2008 ao lançar o 207 em cima da base aprimorada do 206, desta vez com o 308 a Peugeot optou por melhorar o modelo em produção local em vez de trazer a produção do carro novo para o Mercosul. “Acreditamos que o modelo lançado em 2012 ainda é moderno e tem qualidades para ficar mais tempo no mercado. Por outro lado, a nova plataforma não traria rentabilidade”, justifica Ana Theresa Borsari, que há cerca de um mês voltou da França para assumir a direção geral da marca no Brasil (leia aqui).
Antes de partir para a Europa, a brasileira foi diretora de marketing da Peugeot no País e portanto participou ativamente do lançamento do 207 nacional. Ela explica que são situações diferentes, pois o compacto tinha a ambição de aumentar a participação de mercado da marca no Brasil e cumpriu essa missão por algum tempo, enquanto a expectativa sobre o 308 renovado é de, no máximo, manter a posição de quinto mais vendido entre os seis hatches médios disponíveis, com 250 a 300 vendas por mês, o mesmo volume atual.
O desempenho do 308 tem sido bastante negativo nos dois últimos anos. Os emplacamentos do modelo caíram pela metade entre 2013 e 2014, de quase 11 mil para 5,57 mil, e este ano até setembro os 2,5 mil licenciamentos representam retração de 42% sobre o mesmo período do ano passado. “Além da queda geral do mercado, o problema é do segmento (de hatches médios), que foi um dos que mais se contraiu nos últimos tempos, cerca de 50%, perdendo vendas para os SUVs pequenos que têm preços parecidos”, avalia Ana Theresa. Não será o 308, portanto, que trará o esperado aumento de 30% das vendas da Peugeot em 2016 – a ideia aqui é que ao menos o carro não atrapalhe esse plano e mantenha sua posição.
QUALIDADES MELHORADAS

A reestilização feita no 308 segue a estratégia da Peugeot de tentar sofisticar sua linha, abrindo mão do cliente de entrada. “Fazemos isso de propósito, mesmo que custe mais caro oferecer um acabamento mais refinado, é uma escolha e o 308 reflete exatamente esse reposicionamento da marca”, diz a executiva.
Apesar da “escolha” pelo topo do mercado, a Peugeot adotou a estratégia de tentar oferecer mais por menos no 308, que mantém seus preços muito parecidos com os do modelo que vinha sendo vendido até setembro, mas pode ser considerado até mais barato devido ao pacote de equipamentos mais generoso. A versão de entrada Active 1.6, que custava R$ 67 mil, deixa de existir e seu lugar passa a ser ocupado agora pelo Allure 1.6, equipado com os mesmos motor de 122 cv (com etanol) e câmbio manual de cinco marchas, que passa a ser vendido por R$ 69.990. A expectativa é que o modelo represente 50% das vendas do modelo.
A opção mais barata foi a que teve maior reajuste de preço, as outras duas versões mantêm valores próximos, menos de R$ 1 mil mais caras. O 308 Allure 2.0, de 151 cv com etanol e câmbio automático de seis velocidades, tem tabela de R$ 75.990 (era R$ 75 mil) e a projeção é que seja o menos vendido da família, com 20% das escolhas. O topo de linha Griffe 1.6 THP, com motor flex de injeção direta turboalimentado de 173 cavalos (etanol) e transmissão EAT6 (geração mais moderna em relação ao usado no Allure 2.0), sai por R$ 82.990 (custava R$ 82 mil) e representaria 30% das vendas.
Desde a versão mais básica, estão incluídos no preço do 308 itens como teto panorâmico de vidro, ar-condicionado digital de zona dupla de temperatura, direção elétrica progressiva, alarme com bloqueio de portas, piloto automático, freios com ABS a disco nas quatro rodas, controle eletrônico de estabilidade ESP (para o Allure 2.0 e Griffe THP), seis airbags, rodas de liga leve de 17 polegadas e uma completa central multimídia, que inclui navegador por GPS, sistema de som com HD de 6 GB e pareamento com smartphone Android ou Apple IOS, que repete as informações e funcionalidades na tela tátil de 7 polegadas instalada no centro do painel. Os únicos opcionais são as cores especiais (cinco das seis disponíveis), que acrescentam R$ 590, R$ 1.190 ou R$ 1.590 ao preço, dependendo da escolhida.
Com esse recheio, a Peugeot calcula que o 308 custe sempre mais barato do que seus principais concorrentes com o mesmo nível de equipamentos, considerando Fiat Bravo, Chevrolet Cruze hatch, Ford Focus e Volkswagen Golf.

O 308 mantêm a identidade visual que a Peugeot começou a implantar em sua linha a partir de 2010. Foram feitas algumas alterações na reestilização: o tradicional leão da marca migrou da ponta do capô para o meio da grade do radiador, o carro ganhou luzes de LED na dianteira e na traseira elas desenham três riscos diagonais nas lanternas (dizem que representam as “garras do leão”). O interior continua bem-acabado, com revestimento emborrachado do painel, novo quadro de instrumentos com iluminação de efeito noturno, bancos mais ergonômicos com nova espuma, direção revestida em couro perfurado (mesmo acabamento usado nos bancos do Griffe THP).
Também foram feitas melhorias mecânicas, com a recalibragem de amortecedores e braços de suspensão, que absorvem melhor as imperfeições do solo – o que pôde ser positivamente comprovado durante o teste do 308 na descida de serra da estrada velha de Santos. A vedação das portas foi aperfeiçoada para aumentar o isolamento acústico da cabine. O câmbio automático EAT6 da versão Griffe THP teve a relação de marchas alongadas em 11%, para privilegiar a economia de combustível sem perda de uma tocada esportiva, que pode ser melhor sentida quando se escolher o modo “Sport” de condução. Para quem quer economizar até 7,5% mais, a transmissão também tem a opção “Eco”.
No 308 topo de linha, com motor turbinado, a condução é bastante agradável. O carro tem comportamento dinâmico muito estável nas curvas e o acelerador e transmissão respondem com vigor ao acelerador. A renovação foi bem feita, não dá para notar que se trata de projeto desenvolvido há quase uma década. Para a Peugeot, é o suficiente para o Mercosul.
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